terça-feira, 8 de janeiro de 2008
E a Espanha (e a Galiza) aqui tão perto...
Transcrevo aqui um texto de Luís Costa, colunista do JN, na sua edição de sábado. Após um interregno motivado por questões pessoais e profissionais, torno à edição deste o blogue, que espero se tão assídua como fora até à sua interrupção.
E Espanha aqui tão perto
Luís, Costa, Jornalista
Ciclicamente, surgem estudos e estatísticas que nos atormentam com a lamentável realidade em que mergulhou a região Norte do país nos anos mais recentes.
Já não bastava sabermos que o Norte, que há apenas duas décadas ainda integrava o grupo das dez regiões mais industrializadas da Europa, está agora - mesmo no quadro de uma União Europeia alargada 27 países - no grupo das regiões mais pobres.
Já não bastava sabermos que o Norte, nos últimos dez anos, tem andado a divergir no crescimento, quer comparemos com a média nacional quer com a média comunitária, apesar dos dinheiros de Bruxelas que supostamente deveriam estar a ser aplicados na região e a conferir-lhe uma renovada dinâmica.
Já não bastava sabermos que a política regional europeia, ao contrário do que tem sido a prática da nossa política doméstica, não é uma política de cúpula, mas uma política de parceria e descentralizada, onde as responsabilidades são compartilhadas - numa autêntica Europa de regiões - e em que os projectos são geridos no próprio terreno.
Já não bastava sabermos que praticamente tudo aquilo que é mau a nível nacional (desemprego, falência de empresas, baixos níveis de formação académica e profissional, abandono precoce da escolaridade, índices reduzidos de produtividade, escassa geração de riqueza) é pior ainda se olharmos unicamente para o Norte.
Já não bastava sabermos que nas dez sub-regiões mais pobres do país figuram quatro espaços territoriais nortenhos - Tâmega, Alto Trás-os-Montes, Minho-Lima e Douro - e que somente o Grande Porto integra o "top-ten" das sub-regiões mais ricas, mesmo assim em quarto lugar, praticamente lado a lado com o litoral alentejano, embora seja a segunda metrópole do país.
Já não bastava sabermos tudo isto e um trabalho realizado em parceria pelos institutos nacionais de estatística de Portugal e de Espanha vem dizer-nos que o Norte português desceu para a cauda de todas as regiões da Península Ibérica - incluindo as ilhas - no "ranking" do rendimento disponível bruto das famílias, por pessoa. Mais na vizinha Galiza, esse mesmo rendimento chega a duplicar idêntico rendimento na região Norte. E, claro está, de todas as regiões portuguesas a única que rivaliza com o rendimento disponível bruto das famílias espanholas é a região de Lisboa.
É nestas alturas que me lembro de uma frase brilhantemente simples de Poças Martins, na altura a exercer funções autárquicas em Vila Nova de Gaia, por sintetizar na perfeição o drama de um país estruturado numa lógica político-administrativa praticamente imutável desde finais do século XIX "Temos uma divisão administrativa do território que não é adequada ao desenvolvimento. Assim, vamos de vitória em vitória até à derrota final".
Perante este quadro, vale a pena relembrar que, pela primeira vez nos últimos 30 anos, o primeiro-ministro e o líder do maior partido da oposição mostram estar em sintonia quanto à necessidade de avançar com o processo político da regionalização.
É verdade que nenhum deles quer comprometer-se com calendários rigorosos, e até nisso parecem estar de acordo. O que, embora se compreenda do ponto de vista táctico (na suposição de que não existem ainda as condições necessárias a um bem sucedido referendo sobre a matéria) dá sempre para desconfiar quanto às reais intenções de Sócrates e de Menezes até por ambos serem "cristãos novos" desta nobre e velha causa.
O certo é que a oportunidade existe, como nunca antes existira, e não pode de modo algum ser desperdiçada por quem acredita, com efectiva sinceridade, termos uma divisão administrativa do território manifestamente desadequada ao desenvolvimento. No âmbito do próximo ciclo eleitoral legislativo, que é já em 2009, os líderes dos dois maiores partidos portugueses têm de ser ferozmente confrontados com aquela necessidade - e com as suas promessas e profissões de fé.
Para quem acredita que da sobrevivência do Norte depende a sobrevivência do próprio país, a palavra de ordem só pode ser uma até 2009, paciência; depois de lá chegarmos, insistência. Caso contrário, embora correndo o risco de irritar aqueles que trazem sempre a Pátria na boca e a unidade nacional na ponta da língua, mas Lisboa no alforge, mais vale dar razão a José Saramago e admitir que, mais tarde ou mais cedo, acabaremos inapelavelmente anexados por Espanha. E, por este andar, quanto mais cedo melhor.
Luís Costa
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4 comentários:
O Norte está esquecido, portanto.
O que venho eu a dizer há anos. Portugal perde o Norte. Perde a cabeça. Perde o endereço.
E é de propósito que o perde. Sem o saber, suicida-se.
No Norte está Galiza. Daí o esquecimento voluntário.
Portugal já perdeu a cabeça ao esquecer-se da Galiza. Ao negar a sua existência e a virar-lhe as costas, não a reconhecendo como parte do seu património espiritual e cultural.
Agora perde o Norte. É a acefalia total. Concentra-se no seu umbigo e esquece-se de cuidar do resto do corpo. A doença espreita...
Chamando os bois pelos nomes é mais a Lusitânia imperialista esquece ou ainda trata de forma mais colonialista o Norte Galego.
O Norte nunca foi cabeça da Lusitânia nem desta merda de pseudo-país com várias nações. Quando ha varias nações nenhuma pode ser cabeça da outra.
O que acontece é que o Centro ou seja a Lusitânia nestes ultimos anos tem tratado o Norte de uma forma ainda mais colonialista do que no passado.
É no Norte que surgem as grandes empresas privadas, os grandes empresarios e no entanto somos os mais pobres de Portugal e da Peninsula.
O caso Portugues faz-me lembrar muito o caso de Italia em que ha um Norte com um povo bastante capaz economicamente, as grandes empresas privadas e os grandes empresarios nascem lá. Só que o Norte de Itália já é uma Federação e o Sul não lhes rouba tanto como cá. Mesmo assim o partido Liga Nord continua a lutar pela independencia.
Enfim o Norte se fosse independente estaria muito bem e o centro e sul de Portugal, ou seja Lusitania e Algarve estariam a morrer à fome. O Algarve coitadito, nem morreria à fome porque safa-se por ser uma região turistica e safa-se com os investimentos de empresas estrangeiras. Mas o Centro, morreria à fome, não tenho duvidas.
Ainda bem que o blog ressurgiu, já fazia falta estar pelo menos um blog galaico activo, agora que os poucos que havia estão quase todos encerrados.
Pois!
Portugeses, recuperem O NORTE!
No Norte está a Galiza. Sequestrada na Espanha.
José.
Crunha (Portugaliza, Europa).
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