terça-feira, 26 de junho de 2007

O Lapso Geográfico



















A inauguração do Museu Berardo teve pompa e circustância. Uma das poucas falhas a que Lisboa se tinha permitido a ela própria até agora encontrava-se neste campo e foi com honras de inauguração do primeiro-ministro com que ela foi colmatada. Metade do governo de Sócrates mais a inevitável sociedade lisboeta quis estar presente e ficar associada a este momento importantíssimo da vida cultural da capital.

E sem dúvida que sim, que uma cidade comsmopolita como Lisboa merecia já um museu de arte contemporânea de nível internacional, ainda que tenha partido da iniciativa de um empresário e da sua colecção privada. Que interessa? O que interessa é que esse museu passou a ser uma realidade e todos, como não poderia deixar de ser, quiseram tirar partido dele. Os socialites com o fim de aparecer em mais um evento a ser publicado na imprensa cor-de-rosa, os intelectuais a criticar a falta de uma instituição deste nível, os artistas a falar da importância de o país passar a ter agora um espaço que pudesse acolher obras de renome internacional e, claro está, os membros do governo, a fazer caso disto como se fosse obra sua.

Não chegasse esta postura indecente e sem-vergonha do primeiro-ministro mais a sua equipa, ainda se consegue cometer a indelicadeza, a ignorância e a prepotência de afirmar que, com o dito museu, o roteiro da arte contemporânea deixa de acabar em Madrid para começar em Lisboa. E afirma-o, deixando para canto, ignobilmente, a existência do Museu de Arte Contemporânea de Serralves - que fica na cidade do Porto e, que eu saiba, por enquanto, ainda fica em Portugal! - e toda a sua contribuição para a divulgação da arte em território nacional, trazendo ao Porto os nomes mais sonantes, tal como Paula Rego e Francis Bacon, para me limitar apenas aos que são de maior reconhecimento, e que bateram recordes de afluência sucessivos.

Como sempre, os governantes tenhem os horizontes muito limitados e todos sabemos onde esses horizontes acabam. A sua realidade é apenas a realidade da cidade que habitam e, diariamente, revelam desconhecer a realidade que abrange a totalidade do país. Como sempre, Lisboa é a cara de Portugal e o que chega lá chega a Portugal, mesmo que exista já noutro ponto do território. A ignorância que revelam nas matérias mais simples leva-nos a temer pelo pior quando falamos de assuntos mais delicados como a saúde e o (des)emprego. E quanto a isso, temos o que temos tido. Com o consentimento de todos, que nos deixamos governar por quem não nos conhece...

9 comentários:

Anónimo disse...

"Museu de Arte Contemporânea de Serralves - que fica na cidade do Porto e, que eu saiba, por enquanto, ainda fica em Portugal"

Infelizmente, muito infelizmente ainda fica em Portugal :(


Lembrei-me agora de uma ainda melhor e bem mais ridicula que este caso.
Viram o documentario do D. Afonso Henriques? E quando a palerminha da senhora, disse que Portugal apesar de ter nascido no Norte, só passou a existir verdadeiramente, quando incorporou Lisboa? lol é com cada uma mais ridicula que a outra. Até alterar completamente o significado da História eles fazem.

Sem dúvida que se já fossemos independentes e não corressemos risco de deixar de existir enquanto povo, eu iria-me rir bastante com estas calinadas que se vai dizendo..

Oscar de Lis disse...

Mais motivos para acreditar na inútil organização territorial dos estados, tal como estão. Não sei o alcance que tem a tendência autonomista na Galiza sul, se calhar por comparança com a que há na Galiza norte, que é bem pouca, por certo. Quando menos, vocês têm um jornal que apóia minimamente a descentralização. Cá, o único periódico que defende a independência da Galiza, o Novas da Galiza, está em grave perigo de desaparecer.

Saudações e força para vocês. Necessitá-la-ão.

Antonio Lugano disse...

O sr. Antonio Gramsci apercebeu-se, nos anos 20 do século passado, que estava passada a época das revoluções de rua.
Os teóricos do marxismo, principalmente os fazedores da "Teoria Critica", uma definição eufemística para o "cultural marxism" ou "political correctness", compreenderam e assimilaram a mensagem.
Infiltrando-se no ensino, na informação, no cinema, no teatro e na literatura, gradualmente foram subvertendo a "ideología cultural" nascida e desenvolvida na Europa.
Com todos os meios financeiros ao seu dispor, foram gradualmente pervertendo, submergindo a cultura europeia num "caldo" de puro nihilismo anti-estético.
A pós-moderna cultura europeia, seja na arquitectura, na pintura, na escultura ou em qualquer outra expressão artística, não é mais que um arremedo de cacafonia mental objectivamente direccionada à destruição dos valores éticos e estéticos que configuram o nosso conceito de arte.
Através das escolas e dos meios de informação desvirtuaram uma realidade cultural, e transmutaram-na numa moda que os ingénuos e os ignorantes seguem por instinto mimético.
Que relação pode haver entre as expressões de arte grega, romana ou renascentista (entre elas esteticamente concordantes) e as inqualificáveis pasmaceiras a que designam de "arte-contemporânea" ?
Intitular de "museu" um armazém de arrumos de objectos informes, alheios a qualquer taxinomia em que impere um minimo de bom senso, é um insulto à inteligência.

Colocaram as "coisas" em Lisboa ? Pois, felizmente para outras cidades que não têm de suportar semelhante desvairo.

E isto num país em que muitos portugueses não sabem o que é água corrente em casa… num país em que as mães dão à luz nas ambulâncias porque fecharam maternidades… onde crianças têm que percorrer quilómetros diariamente porque fecharam escolas…
Mas o sr Berardo, que o sistema politico autorizou a ser multi-milionário, aplica milhões em necedades (outras se avizinham) no mais profundo desprezo pelas necessidades primárias de tanta gente…

Que no Porto existe um "museu" de coisas parecidas, um "cubo-ortorômbico", e um "pátio das mesquitas" onde floresciam flores… tudo isso é profundamente lamentável.
O que não impede os basbaques, que só pensam alguns segundos por mês (porque a televisão pensa por eles), irem a esses locais fazer fotos para mostrar como são "evoluidos"…

Dizia Barnum que o mercado para a estupidez é gigantesco, pois o número de clientes é potencialmente ilimitado ; mercado esse que permanece equilibrado porque sempre existe uma oferta abundante disponível.
Mais grandioso que a estupidez humana, talvez somente a demagogia de quem detém o poder politico (e que tão pouco são isentos da dita).

http//:gallaeciaeuropa.blogspot.com

Oscar de Lis disse...

É evidente que os museus são um luxo naqueles territórios onde as necessidades básicas maslowianas não foram ainda cobertas. É evidente também a crise dos espaços de musealização, porquanto também dos espaços foucaultianos de encerro. Mas às necessidades básicas que você refere há que unir também necessidades secundárias, como as de cultura. O erro está talvez em fazê-lo como museu, o que não para de ser, ademais, um acto encaminhado a manter as legalidades e os privilégios pequenoburgueses

Anónimo disse...

Então, o que aconteceu com este blogue?...

Oscar de Lis disse...

Isso mesmo é o que começava a me perguntar eu.

Anónimo disse...

hehe, o Nóbrega deveu ir de férias e deixou-nos a todos "feriados"...

Anónimo disse...

http://identitario.freeforums.org/index.php

Anónimo disse...

Infelizmente o mercado do Colonialismo é também vasto, e ínvios são os seus argumentos...tou farto deles...centralistas dum raio !!