quarta-feira, 28 de março de 2007

A Cabeça e o Resto do Corpo. Conflitos Internos?


















Os números divulgados pelo jornal Público (anteontem) e pelo Primeiro de Janeiro (na semana passada) apesar de preocupantes não são surpreendentes. Conhecemos as políticas do governo em relação ao combate ao desemprego e à saúde e às variadas áreas que neste momento ilustram a crise em que o país vai mergulhando sem parecer querer debater-se para vir à tona respirar.

As políticas e as ideias do governo e dos ilustres governantes do país reflectem uma preocupação excessiva para com a capital e o território em seu redor agora adquirido, em detrimento de uma política equalitária que servisse de igual modo as diferentes regiões do país. Só assim se explica como o Vale do Tejo (recém-conquistado território por parte da capital) tenha um nível de vida e um índice de desenvolvimento superior ao do norte do país. Aliás, o melhor índice de Portugal! O Ribatejo (antiga denominação do Vale do Tejo) não passa - e sem entrar em polémicas, mas colocando as coisas de uma forma simplista - de uma lezíria com poucos habitantes e reduzido grau de industrialização. Só uma política proteccionista e preconceituosa poderia proporcionar uma conjugação de factores para que esta região pudesse ter um melhor índice de desenvolvimento do que a região Norte, que tem tradição industrial desde o séc. XIX e que até aos anos 80 serviu como motor económico do país. Nem é necessário aprofundar a questão para perceber o potencial de uma e de outra região: é por tal forma evidente que não teria o menor nexo uma comparação exaustiva.

Lisboa atrofia o Porto desde há muito e de há uns 20 anos para cá tudo piorou. Para nós, evidentemente. Perdeu-se a vergonha ou o sentimento de culpa de assumir uma política centralizadora, absorvente e destruidora. Assumiu-se de vez o objectivo de travar o crescimento económico do Porto e, por conseguinte, do resto da região. De que outra forma poderemos interpretar os disparates escandalosos com que os sucessivos governos de esquerda e de direita brindaram a cidade do Porto? A passagem do BPA - à data, o banco referência português - para as mãos de um grupo da banca lisboeta, transferindo a sua sede do Porto para Lisboa foi o primeiro passo para a abertura das hostilidades. Seguidamente privou-se o Porto da sua Bolsa de Valores, por - argumentaram eles, mas sem apresentar estudos disso - apresentar prejuízo e não se justificar duas bolsas de valores num país de tamanho tão reduzido. Não satisfeitos transferiram toda a autonomia nos serviços públicos que a cidade possuía para a cada vez mais macrocéfala Lisboa. As consequências das políticas centralistas do governo foram fazendo o resto. Para quê investir numa empresa na cidade do Porto, por parte de um grupo estrangeiro, se todas as benesses iriam para quem investisse em Lisboa? Investir no Porto era sinal de burocracia, atrasos nos despachos, deficiência de serviços e outros entraves que desencorajavam o investimento local, em favor da capital.

Foi, assim, crescendo Lisboa e absorvendo cada vez mais os benefícios da sua política que lhe permitiria acumular cada vez mais riqueza e adquirindo um estatuto que quando comparado em números, excluía a capacidade do Porto - e das restantes cidades - para discutir com ela o estatuto de motor económico do país. E justificava também a necessidade de um investimento cada vez maior em si mesmo, para proporcionar melhores infra-estruturas aos cada vez mais investimentos que ela própria proporcionou. Criou então, de uma forma planeada e premeditada, as condições necessárias para se desenvolver economicamente e afirmar a sua posição de cidade líder do país, encostando para canto a cidade que mais condições tinha para competir com ela.

Só que ao adoptar esta política, Lisboa esquece-se que faz parte de um país e que apesar de ter saúde financeira ela própria, o resto do país atravessa uma crise perigosa. Ao adoptar essa política, para benefício próprio, abdicou e excluiu do processo a região do país com maior capacidade para ombrear com ela e ser uma mais-valia para ultrapassar a crise. E dessa maneira o país perdeu. Perdeu um elemento fundamental no combate a crise e fundamental ao crescimento económico, por estar atrofiado, oprimido, subaproveitado e, diria mesmo, humilhado. Porque só podemos estar a falar de humilhação quando nos confrontamos com esses valores e temos conhecimento do nosso real potencial e não existir uma política que vá de encontro às características da nossa região.

Enquanto a cabeça macrocéfala do país conseguir permanecer à tona, o país aguentar-se-á por mais algum tempo. Mas por quanto tempo mais? É preciso ter em conta que os restantes órgãos encontram-se submersos e correm o risco de sofrer lesões irrecuperáveis.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não perde pela demora este centralismo cego.
A seguir será Ma drid a sujeitar Lx como esta sujeitou já o Porto.

Talvez nessa altura se perceba que só regionalizando se pode desenvolver este cantinho da Península.