sexta-feira, 20 de abril de 2007

O Norte Chinês















Artigo de opinião do prof. Alberto Castro, no JN

A força do destino?

A semana que passou foi farta em notícias que, directa ou indirectamente, dizem respeito à Região do Norte. Os dados revelados pelo INE sobre a evolução da economia nortenha e do PIB per capita regional chocaram as boas consciências, por verem em letra de forma aquilo de que todos já suspeitavam mesmo a marcha pachorrenta do comboio do subdesenvolvimento nacional é demasiado rápida para nós! Para entendermos o porquê de isto ser assim, e dificilmente poder ser de outro modo, é importante mergulharmos nos detalhes regionais do estudo apresentado, também esta semna, pelo Ministério da Educação. Como diz Joaquim Azevedo, enquanto país "perdemos o passo da lebre": não conseguimos tornar sustentável o ritmo de convergência com os países da OCDE, estagnámos e, inclusive, começámos a divergir. Também aqui, ou sobretudo aqui, o Norte se destaca pela negativa: nem sequer o "passo da tartaruga" aguentamos, continuando a afundar-nos relativamente ao resto do país, sobretudo no Ensino Secundário. Não era, mas podia perfeitamente ser esta realidade que Manuel Pinho tinha em mente quando falou de Portugal como um país com baixos custos salariais. Com uma força de trabalho com tão baixas qualificações, e que persiste em desprezar o papel da educação e da formação, há o risco de o modelo chinês se transformar de ameaça em destino! Venham, então, os chineses, os salários chineses, as condições de trabalho chinesas. Ao fim e ao cabo, temo-nos esforçado para criar a envolvente em que eles se sentirão confortáveis. Falta, é certo, abolirmos algumas dessas absurdas regulamentações sociais, uma ou outra liberdade e garantia e talvez essa coisa do impacto sobre o CO2. Essas devem ser as nossas prioridades! Nessa altura, o capital chinês afluirá ao Norte e Vila do Conde, actual sede da comunidade chinesa mais numerosa, passará a crescer ao ritmo de Xangai, absorvendo, antes de 2050, o Porto e Viana do Castelo, transformando-se numa metrópole que rivalizará com Nova Iorque. A antiga estrada nacional Porto-Viana será bordejada por majestosos arranha-céus, tornando-se a avenida europeia mais cosmopolita. A Póvoa de Varzim destronará Macau como a capital do jogo do Mundo. O F.C. Porto que, ao crismar de Dragão o seu estádio, antecipou todo este processo, passará a ter mais jogadores chineses do que sul-americanos.

É esta a brilhante estratégia que os agentes da Região, em conluio com o Governo, têm vindo, laboriosa e sigilosamente, a preparar e que Manuel Pinho, inadvertidamente, desvendou. O Norte será a China da Europa, com chineses a sério e tudo! É a força do destino!

Será? Como se costuma dizer, há pormenores que às vezes são "pormaiores". É o caso dos tais direitos, liberdades e garantias. Que são cultura e civilização. Mesmo se algumas das regulamentações precisam de ser aliviadas, para não gerar o paradoxo de vermos empresas de fabrico de vestuário a fechar, lamentos na televisão e… haver falta de costureiras. Mas nunca o regresso à barbárie. O que torna o desafio mais urgente e requer acção. A regionalização pode esperar, nós não. É indispensável que agentes e instituições convirjam para um plano de actuação que assegure o desenvolvimento da plataforma logística de Leixões, a dinamização do aeroporto, um plano de educação e formação gerido de acordo com as necessidades e com os incentivos e penalizações apropriados, mais descentralização de decisões. E uma avaliação rigorosa e independente das mesmas. Antes e depois. O programa proposto pela CCDRN é um excelente ponto de partida. A regionalização? É já a seguir!

Alberto Castro, Professor universitário


http://jn.sapo.pt/2007/02/06/opiniao/a_forca_destino.html?name=News&file=article&sid=3429/

5 comentários:

Anónimo disse...

Interessante comentario.
realmente o norte esta a ficar chines e nao só, também esta a ficar negro, mulato e brasileiro.
Em breve o norte não será mais Calécia e será mais uma região ao estilo Brasileiro, misturada total.

Calaicos, mais um povo em vias de extinsão.

Anónimo disse...

O Norte parece cada vez mais a Bahia e Salvador - e só lhe fica bem. Viva o Norte; Viva a Bahia e o Maranhão.

Anónimo disse...

Também há germânicos Gauchos no Rio Grande do Sul - da Emigração Alemã (Nova Hamburgo etc.). A comunidade mais Forte no Rio Grande é a Açoreana (Açores de Algarvios, Alentejanos, Flamengos etc.); Também uma comunidade Italiana em terras Rio Grandenses, de que descende Luis Felipe Scolari.


O Brasil também é branco - e de que maneira.

Tiago Laranjeiro disse...

Mais uma visão apocalíptica, embora feita com uma ponta de ironia. Não vejo que tal seja um problema exclusivo do Norte do país, mas antes de todo Portugal, e de todo o mundo Ocidental. É óbvio que, neste caso particular da invasão chinesa com os seus produtos têxteis de qualidade muito duvidosa (mas que têm vindo a melhorar!), o Norte português é particularmente afectado.

Sam disse...

Obviamente trata-se de um problema à escala ocidental. A penetração de produtos chineses faz-se sentir cada vez mais no ocidente. Acho que a UE deveria aumentar as restrições à importação de produtos deste país, pois a forma como os seus preços baixos são conseguidos viola direitos humanos e esconde condições de trabalho miseráveis e exploradoras. Os trabalhadores fabris deste país chegam a trabalhar 14 horas diárias para ganhar um ou dois euros.

No caso da região portuguesa em causa o problema faz-se sentir de uma forma mais intensa porque afecta directamente um dos sectores base da economia da região. A maior parte das empresas do sector são de pequena e média dimensão e não podem acompanhar os preços dos chineses. E muitas acabam por sucumbir, enfraquecedno mais ainda a eocomia da região. Os que tentam contornar a situação pela melhoria de qualidade dos seus produtos e pela inovação acabam por encontrar dificuldades pela demora ou mesmo falta de apoios por parte do governo.

E se um governo não defende como deveria defender a economia de uma região fundamental do seu país, quem mais vai defender? Ao que os empresários estão condenados é ao abandono e a um salve-se quem puder. E da maneira que puder.