sexta-feira, 2 de maio de 2008

Adeus, Galiza!


Manuel, Correia Fernandes, Arquitecto

















A Galiza já não é o que era. Para seu bem e para desgraça nossa, Portugal e, sobretudo, o Norte de Portugal continua a ser o que era pobre! Os números já não falam só. Gritam e gritam bem alto a nossa contínua perda em tudo quanto são valores de bem-estar, qualidade de vida, progresso e crença no futuro. Resultado: hoje, vive-se melhor na Galiza do que no Norte de Portugal.

Há alguns anos, a situação era a inversa. Perante os factos, é possível que tenham acontecido três coisas ou ambos crescemos mas eles cresceram mais, ou eles cresceram e nós não, ou eles também não cresceram mas nós andámos para trás. Talvez tenha acontecido de tudo um pouco mas a verdade é que, hoje, já fomos ultrapassados pela ex-pobre Galiza e em alguns casos, até já fomos ultrapassados.

Razões? Haverá, certamente, muitas. Umas conhecidas, outras menos e outras, ainda, nada conhecidas ou que, pelo menos, não gostamos de invocar. A verdade é que de um e outro lado da fronteira - que até já nem existe - olhamo-nos de modo distinto.

Do lado de cá, sempre tendemos a desvalorizar as diferenças. Quando nos favoreciam, achávamos que era natural que assim fosse! No fundo, a expressão "trabalhar que nem um galego" representava para nós, a tola convicção da nossa ancestral, injustificada e quase aristocrática "superioridade". Quando (as diferenças) nos desfavoreciam, atirávamos as culpas para Madrid que protegia artificialmente a terra de Franco ou para Lisboa que nos roubava o pão da boca. Culpa nossa? Não. Isso nunca!

Do lado de lá, tudo era inverso. Ali, as diferenças entre Galiza e Norte de Portugal, sempre foram justamente valorizadas. A começar pela língua e a acabar nas "marcas" nortenhas de suposto prestígio mundial como era o caso do Porto/vinho, do mítico Douro ou do Porto/cidade. Mas nunca estas diferenças foram motivo de inveja ou, sequer, de justificação para o atraso.

Em todo o caso, houve tempos em que a aproximação foi motivo de grande esperança. É verdade que o entusiasmo foi sempre muito maior do lado de lá do que do lado de cá. Mas houve excepções (raras e honrosas) e, muitas vezes, contra tudo e contra todos, os sonhos comuns foram transformados em projectos concretos e viáveis e a que só faltava o OK de "quem mandava" . Mas a realidade era outra e era a de um triste e já velho fadário OK imediato do lado de lá porque "quem mandava" estava lá, no sítio, e do lado de cá, a clássica e interminável corrida para Lisboa, mendigando um OK que nunca mais vinha ou que, quando vinha, já vinha tarde porque "quem mandava e manda" continua, ainda hoje, a estar fora do sítio!

E foram anos de esperanças goradas, de ideias desperdiçadas e de projectos abortados! Será, isto, pessimismo em estado puro? Será, isto, pura maledicência? Será, isto, puro derrotismo? Talvez! Mas, tal como os factos, os números estão aí para responderem!

A verdade é que hoje a situação só é idêntica à de antigamente no facto de nos continuarmos a olhar de ambos os lados da fronteira - que continua a não existir - de modo igualmente diferente é que a Galiza já não espera por nós e até já a vimos partir para outra: definitivamente, a Galiza cansou-se de esperar e já nem, sequer, arrisca pensar se o que nos falta é capacidade de decisão (localizada onde quer que seja) ou qualquer outra coisa. Mas, legítima, claro. A verdade é que não a quisemos no momento certo e ainda nem sequer sabemos se, algum dia, a vamos querer ter!

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Gaiteiros em festa!

Notícia o Jornal de Notícias de hoje, 28 de Abril:
















Milhares saíram à rua para saudar os gaiteiros


Em regra anunciam as festas, mas ontem foram eles os "festeiros". Grupos de gaiteiros da região Centro e alguns convidados vindos do Norte, a que se juntaram, espontaneamente, representantes de outras partes do país, reuniram-se ontem na Pena, concelho de Cantanhede. O quinto encontro regional de gaiteiros reuniu cerca de uma centena de músicos amadores tocadores de bombos e gaitas de foles.

"É uma manifestação popular da música em homenagem aos músicos de Pena, uma aldeia que chegou a ter vários grupos musicais", explicou ao JN Carlos Jorge Simões, um dos elementos da organização. Nem todos têm formação musical. Por tradição tocavam de ouvindo, sendo que hoje existem escolas de música para gaiteiros a surgir um pouco por todo o país. Promovido pelo Centro Cultural e Recreativo da Pena (CCRP), o encontro é já uma referência regional e começa a ter visibilidade nacional. Prova disso foi a vinda espontânea de 15 elementos ligados à Associação Gaita-de-foles de Lisboa. Também o grupo Rocos & Curiscos, ligado à Academia de Música de Ançã, do concelho de Cantanhede, se juntou à iniciativa pelo prazer do convívio e para praxar novos músicos. Convidados estavam os "Gaiteiros da Ponte Velha", de S. Tirso e vindos de Braga na companhia de gigantones e cabeçudos estiveram presentes os "Gaiteiros Ida e Volta". A festa durou todo o dia com arruadas pelas ruas da aldeia e milhares de pessoas a assistir às actuações de alguns dos grupos em Cantanhede e Portunhos. A animação esteve também presente num almoço convívio que serviu para a apresentação de uma mostra gastronómica da região.

Licínia Girão

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Entrevista a Ludgero Marques


AEP na corrida pela gestão do aeroporto Sá Carneiro


Joana Amorim

A Associação Empresarial de Portugal (AEP) quer ter um papel activo na futura gestão privada do aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto. E Ludgero Marques deixa ainda claro que a AEP terá de ter uma posição confortável, uma vez que não está para ser comandada. Claramente a favor dos privados, o empresário considera que as companhias aéreas "low cost" são vitais para o futuro do aeroporto. E, como seria de esperar, vai deixando recados ao Governo, que acusa de tratar o Porto como "uma cidade pequena qualquer".


A AEP junta-se à Sonae e à Junta Metropolitana do Porto na corrida pela gestão do aeroporto Francisco Sá Carneiro. De que forma? Está tudo em aberto, garante Ludgero Marques ao JN. O importante é salvaguardar uma plataforma estratégica para o Norte, região "que está a definhar" não por culpa das suas gentes, mas de vários governos, diz.



JN|A AEP constituiu, no passado, um consórcio com empresas do Norte para concorrer à privatização do aeroporto Francisco Sá Carneiro. Vai "ressuscitar" esse consórcio?



Ludgero Marques|A importância do aeroporto do Porto é muito grande para o desenvolvimento desta região [Norte]. Para termos uma maior visibilidade internacional não basta ter um aeroporto bom, bonito e funcional como o que temos, feito com pouco dinheiro mas mesmo assim com grande qualidade. Precisamos de ter um aeroporto capaz de atrair companhias aéreas que nos possam levar para as diversas capitais do Mundo.



E qual será o papel da AEP?

Enquanto instituição representativa do empresariado português, a AEP respondeu sempre às necessidades que lhe eram exigidas. Fomos nós, até, que potenciámos o aparecimento da primeira companhia aérea entre Porto-Lisboa a LAR - Linhas Aéreas Regionais. Em todas as reuniões que se fizeram aqui no Porto com os ministros João Cravinho e Jorge Coelho nós tivemos sempre presentes e activos. Nessa altura, os ministros vinham ao Porto e conversavam connosco e com mais pessoas…



E agora não vêm?

…e muito do que está feito hoje no aeroporto do Porto é resultante das nossas pressões. E não queremos ser esquecidos de maneira nenhuma disso.



Essa disponibilidade já está planeada?

Não temos nenhum planeamento específico. Temos é uma disponibilidade total para podermos ser incorporados ou incorporar parceiros que tenham condições para gerir um aeroporto. Mas que não seja gerido apenas de uma forma economicista, porque aí correríamos o risco de os preços poderem ser caros e orientados apenas para as áreas que interessariam a um consórcio exclusivamente economicista.



E está mais disponível para incorporar ou ser incorporada?

Estamos disponíveis para tudo o que seja bom para o Norte, quer seja de acções da nossa iniciativa ou da iniciativa de outros. O que não poderemos é ser totalmente comandados. Temos que ter alguma posição para que se justifique a nossa presença.



Qual o modelo que agradaria mais à AEP o público-privado ou o exclusivamente privado?

Sou apologista sempre da parte privada. Mas também aposto na público-privada quando a privada não responder totalmente aos anseios que existem.



Discorda então do ministro Mário Lino que já veio a público dizer que a gestão privada seria a morte do Sá Carneiro.

Acho que o eng.º Mário Lino vai mudar de opinião outra vez. Já mudou uma vez ou duas ou três…



O futuro do aeroporto passa pelas "low cost"?

É importante que estejam cá. As "low cost" podem trazer para esta zona muito mais turistas.



Por falar em turismo, é dos poucos sectores em alta na economia do Norte. O Norte está a definhar?

O nosso Norte tem de reaparecer. O Norte está a definhar, mas a culpa não é da gente do Norte. A culpa é da distribuição que os governos têm feito. Às vezes fico com a ideia de que o Governo não pretende ter uma segunda cidade forte, pretende ter muitas cidades pequenas. O Porto está a ser tratado como uma cidade pequena qualquer.



E continua a defender que a solução passa pela descentralização e não pela regionalização?

Se for igual àquela [regionalização] que queriam fazer sou 100% contrário. Se falar em autonomias já começo a pensar… Mas penso que isso não é possível.



É isso que explica a pujança da economia galega?

Porque tem a gasolina mais barata (risos).



E criou verdadeiros clusters...

A regionalização como estava pensada - distribuir mais funcionários pelo país mas comandados por Lisboa - não interessa. Agora se tivermos outro tipo de autonomia, recebermos dinheiro à moda do [Alberto João] Jardim, pronto… Mas não tenho grandes expectativas de que isso aconteça.



O QREN é a derradeira oportunidade para a região?

Está anunciado como tendo muito dinheiro. Agora depende da forma como vai ser distribuído. O Ministério da Economia tem anunciado uma quantidade de aprovações de projectos. De 15 em 15 dias vem assinar por aí papéis destes projectos. Espero que não aconteça o mesmo que se passou com a formação no fim dos anos 80.

terça-feira, 22 de abril de 2008

O Exemplo de Guimarães

Artigo de opinião, do Jornal de Notícias de hoje:


















O exemplo de Guimarães


Alberto Castro, Professor universitário

Aexistência de uma rede de cidades de dimensão média, cada uma com a sua história, cultura, especificidade e a sua vontade de protagonismo próprio, tem sido apontada como uma força da Região Norte. Os centralistas têm procurado passar a ideia de que a pretensão do Porto em se afirmar como segunda cidade do país colidiria com o desenvolvimento desses pólos. A eventual regionalização, em que o Porto emergiria como a capital da região, apenas reforçaria essa lógica, subalternizando e instrumentalizando os projectos dessas outras cidades. O Porto estaria para o Norte como Lisboa para o país. Ajudado por erros próprios, esse discurso passou, como se viu no referendo sobre a regionalização, com o resto do Norte a votar, esmagadoramente, contra. Para desfazer aquela ideia, importa alterar o discurso e as práticas. O Porto deve assumir-se como o porta-voz de um modelo de desenvolvimento diferente. Não deve pedir para si, mas reivindicar que se faça de outro modo. No tempo, poderia ter argumentado que, quando foi criada, a Autoridade da Concorrência deveria ficar sediada em Coimbra, onde existem competências naquele domínio. Ou que a Agência de Segurança Marítima ficaria melhor em Aveiro ou Viana do Castelo ou Faro. E, noutros tantos casos, poderia encontrar argumentos para que os beneficiários fossem Bragança, Viseu ou Évora.

Perguntar-se-á quem, na ausência de um poder regional, pode falar em nome do Porto? Respondo: todos os actores relevantes, desde os políticos até à sociedade civil. Para isso é preciso ir percorrendo um caminho de construção de consensos sobre o papel do Porto numa nova economia. Se for esse o propósito, ao contrário do que alguns escribas centralistas querem fazer crer, não há discussão ou debates a mais, seja no Porto.

A proposta da Sonae para gerir o aeroporto Sá Carneiro pode, como aqui já argumentei, ser um excelente exemplo do envolvimento interinstitucional e intra-regional que é necessário para dar à região o protagonismo e o dinamismo de que o país precisa. Belmiro de Azevedo anunciou que faz, ainda, parte do seu projecto a afectação, à promoção turística do Norte, do excedente acima do objectivo mínimo de rentabilidade de exploração fixado. Uma excelente proposta, consentânea com a tradição de fazer recair nos ombros da iniciativa privada o dinamismo da economia nortenha e a mostrar que nem só de QREN vive o Norte.

Num Norte policêntrico, o Porto será o núcleo de uma rede com pólos fortes, com a sua própria identidade e protagonismo. Guimarães é, a esse título, um caso a ter em conta. Pela mão do seu discreto presidente da Câmara, António Magalhães, a cidade tem vindo a traçar e concretizar uma estratégia exemplar, traduzida na classificação do seu Centro Histórico como património mundial ou na recuperação e edificação do Centro Cultural Vila Flor. A designação de Guimarães para capital europeia da cultura em 2012 é, por uma vez, um acto de justiça. Que ao mesmo tenha estado ligada uma ministra natural de Braga não deixa de ser simbólico de uma nova mentalidade que ultrapassa invejas serôdias, alimentadas, durante muitos anos, pelo Poder Central.

Em paralelo, o desempenho desportivo do Vitória local tem dado à cidade uma visibilidade mediática que de outro modo, provavelmente, não teria. Para além da sensacional carreira da sua equipa de futebol, o Vitória ganhou, recentemente, a Taça de Portugal de Basquetebol e o Campeonato de Voleibol. A forma como conseguiu estes dois títulos demonstra uma vontade de vencer, uma unidade de grupo e uma orientação paradigmática. No basquetebol, a perder por 6 pontos a pouco tempo do fim, conseguiu, ainda assim, dar a volta ao resultado, ganhando a um Porto sobranceiro e displicente, tudo isto já depois de ter eliminado o campeão nacional. No voleibol, a perder 2-1 em jogos e 2-0 em sets, conseguiu vencer os 3 sets seguintes, empatar a final e ir ganhar, a casa do adversário, o último jogo e o respectivo campeonato.

É desta vontade de prosseguir um projecto próprio, desta determinação, deste acreditar, deste espírito guerreiro que nunca desiste que a região precisa. Se o exemplo de Guimarães puder ser emulado e frutificar noutras cidades, a região só fica a ganhar.

Declaração de interesses portista e natural de Braga (o meu segundo clube, cuja vergonhosa desorientação está nos antípodas do Vitória), não me poderão acusar de parcialidade no que acima ficou escrito.

Alberto Castro escreve no JN, semanalmente às terças-feiras.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Galegos discutem acordo na Assembleia







Na discussão do novo acordo ortográfico, tiveram a oportunidade de participar os presidentes da AGAL - Associaçom Galega da Língua - e da Academia Galega da Língua Portuguesa. As suas intervenções serviram para vincar a sua aproximação à lusofonia e esclarecer alguns que possam andar mais distraídos acerca da questão linguística e da imposição do castelhano que padecem os galegos do norte.

À cada vez mais crescente adesão das pessoas ao reintegracionismo, junta-se agora a participação galega na discussão do acordo, o que poderá contribuir mais e melhor para a aceitação do galego, na sua forma histórica, por parte dos galegos. E com todo o direito. O galego como variante da língua portuguesa (ou vice-versa) deve participar nestas discussões e defender os seus interesses e pontos de vista.

Cada vez mais, na parte norte da Galiza, as pessoas aceitam o reintegracionismo, por perceberem que, na norma portuguesa ou na norma AGAL, é a aproximação do galego à sua ortografia histórica, ao invés da norma RAG, cujo respeito que demonstra é o respeito polo castelhano, apenas. É ver em Vieiros os comentários e perceber que há um maior número de pessoas a escrever na norma padrão portuguesa ou na norma AGAL. É ver o número de páginas de internet que escrevem reintegrado. É ver o número de empresas - através do muito importante contributo da Galempresas - a adoptar o galego como língua de trabalho. Mesmo os que são defensores e escrevem na norma da Real Academia Galega começam, muitos deles, a respeitar os que adoptaram o reintegracionismo e a dissociá-lo de algum bicho papão. Que não é!. E fazem bem! O reintegracionismo é, na minha humilde opinião - a salvação do galego como língua escrita e falada. Integrada num universo de 250 milhões de falantes, partilha um espaço comum vasto, com todas as potencialidades que isso poderá atrair.

Acima deixo duas ligações às intervenções de Alexandre Banhos, presidente da Associaçom Galega da Língua, e de Ângelo Cristóvão Vicente, presidente da Academia Galega da Língua Portuguesa.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O Entrudo







A cultura tradicional popular tem na Festa o cenario máis importante no que desenvolve a maior parte das suas relaçons sociais. Existe um festejo com claro passado pagám e cuja orige remonta-se aos mais ancestrais tempos pretéritos, posteriormente resituados na órbita cristá, que goza de grande predicamento e seguimento entre o pobo galego: o Antroido ou Entroido ( carnaval galaico ).
A orige do termo pode-se situar na voz latina "introitus" ( entrada ) por assinalar a entrada posterior ao período da Quaresma.
O Antroido sempre gozou de grande seguimento popular, pois a doutrina cristá esigía no subsiguiente período de Quaresma umha rígida penitencia e abstinencia: prohibiçom de comer carne e suspensom de festas e celebraçons.
Nas datas de antroido realizam-se grandes rituais gastronómicos nos que a carne de porco tem umha presença essencial: cacheira, lacóm, rojóns, tripas, botelo, chouriços..., exquisitas sobremesas como "o bolo de antroido" (preparado com farinha de milho e centeio é um pam de mesa sem levedar), filhoas, orelhas e flores...
Pero o Antroido nom só é gastronomia já que trata-se da festa popular de maior transcendencia do ano. Antigamente era a época preferida pra a representaçom de obras teatrais ( o antroido é em si mesmo umha grande peça teatral). Tradicionalmente durante estas festas pode-se expressar com impunidade a "vox populi". Antano começaba-se em Janeiro, com dous domingos de antelaçom ao "domingo de entroido" ja se celebraba nalguns lugares o "fareleiro": os mais moços espalhabam o "farelo" (casca esmiuçada de grande de cereais, que no moinho separa-se da farinha ) sobre as moças, que em ocasions era substituído por folhim ou cinza.
O domingo anterior ao "de Antroido" conhece-se como "corredoiro", pois nalguns lugares era tradicional a "corrida do galo". As quintas-feiras anterior e posterior a esta data conhecem-se como de "compadres e comadres" , simbolizando a eterna loita de sexos: na quinta-feira de comadres os representantes masculinos portam images que representam às mulheres, quenes tentabam arrebatar-las pra evitar a sua queima; nquinta-feira de compadres invertiam-se os papeis.
Mas é o sábado e domingo de antroido cando começa o esplendor.
Moitos som os protagonistas do entroido da Galiza chegados a partir da antiga raigame popular:
* "Cigarróns" (Verim), "peliqueiros" (Laza), "felos" (Maceda e O Bolo), "pantalhas" (Ginzo de Lima) - poboaçons da província de Ourense - som as máscaras mais antigas e gozam de total imunidade (nom se pode-lhes tocar), gastam bromas e malham aos viandantes cum látego ou unha bexiga que levam cinguida a um pau.
Os "cigarróns" e "peliqueiros" levam um pucho no que representan motivos animais ou astrais e careta de madeira. Com vestimenta formada de calçom e chaquetilha anunciam a sua presença co som dos grandes cencerros que levam na sua cintura. Desfilam em fila indiana, saltando sem parar sem que ninguém descubra a sua identidade.

* Os "gerais e correios" som a figura mais notória no Vale do Ulha: um agrupamento conduzido por um general a cabalo, e precedida polos seus "correios", enfronta-se a outra homónima e rival, iniciando-se umha guerra de agudeza na composiçom de versos trala que os generais assinam umha trégua ata o vindeiro Antroido.

* As "madamas e galáns" de Cobres - Vila Boa (Ponte Vedra) salientam por um vestiário moi colorido e fastoso: sobre umha vestimenta de cor branco luzem enorme cantidade de rechamantes complementos (mantóns de manila, colares, chapéus, cintas...).

* "O rei Urco e o loro Ravachol" representam o antroido pontevedrés. O primeiro apresenta-se na cidade cos seus exércitos, e Teucro, em inferioridade, recebe-o cumha festa que dura tres dias; ao final morre envelenado.
O enterro do "loro Ravachol" (nome posto por Perfecto Feijoo ao seu loro ) celebra-se o sábado posterior à terça-feira de antroido e substituiu ao enterro da sardinha.

* O Enterro do Antroido: o antroido remata a quarta-feira de cinza", co "enterro da sardinha" na maioria dos lugares. Umha tradiçom importada da meseta na segunda metade do século XIX, pois o tradicional na Galiza eram os enterros de "mecos, entroidos ou momos". Tal enterro nom deixa de ser umha inhumaçom polo rito cristam no que o defunto é a sardinha.
Cada localidade representa num boneco-rei a figura do entroido ( entroidos, mecos, momos, "o Filipe", "o Filipinhoo ", " o Marcial", "o Farruco"... ), que é queimado na cerimonia.

* "Domingo de pinhata": celebra-se o domingo posterior à quarta-feira de cinzas (primeiro domingo de quaresma) e é umha oportunidade pra romper a penitencia e o recolhimento da quaresma. A "pinhata" é un jogo infantil relacionado co galego "jogo das olas" o cal celebraba-se nalguns lugares da província de Ourense polo antroido.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

As Fogueiras de Dezembro















Polos finais de Dezembro, nas noites de Natal e de Passagem d'Ano, anualmente repete-se com rigor a celebração das festas em redor de uma fogueira. Por essas aldeias e vilas fora, amontoam-se os toros na praça principal, por norma defronte da igreja, e à noitinha ateia-se o fogo à lenha e o povo começa a juntar-se em redor do lume. Celebra-se, canta-se, come-se e bebe-se. Para aquecer, claro está.

O conceito que temos de Natal, hoje em dia, alude a uma noite caseira, com a lareira acesa (onde a houver), a família por companhia e muita doçaria e lambarice à mesa para ir degustando juntamente com um Porto ou outra bebida fina. Temos aquilo que se chama um Natal passado em família. Dai a minha surpresa quando nos meus tempos de Liceu um amigo meu me ter contado acerca do Natal dele, em Macedo. Quando lhe atirei com "O costume, passado em casa com a família", após ele me ter perguntado pelo meu Natal, ele responde-me que em casa foi coisa que ele não ficou. E que o passou com os amigos. Porventura a família também lá estaria, junto do lume, a comer e a beber e a dançar. Como estaria a aldeia em peso, já que nessa noite ninguém ficava em casa. O natal dele era passado de uma forma para mim impensável e, até então, fora do convencional daquilo que era um Natal tradicional. Julgara eu.

Esta tradição que ocorre nos finais de Dezembro, nas zonas do Noroeste Peninsular, remonta aos tempos em que as populações celebravam o solstício de Inverno, em finais de Dezembro. Fogueiras enormes eram acendidas por todo o lado para comemorar a entrada no período do frio, pedindo dessa forma aos deuses que o lume fosse sua companhia no Inverno, que a luz estivesse presente e que as colheitas do ano vindouro fosse de feição às suas expectativas. Era a festa da luz, a festa do fogo. Por toda a Europa celta se repetia este ritual e, ainda hoje em dia, as variantes destas celebrações podem ser encontradas na Europa central - casos da Suiça, Áustria e sul da Alemanha, onde o culto da árvore permanece, sendo esta queimada no dia do solstício. Na Alsácia e na Lorena são as luzes que imperam. Todas esta manifestações se relacionam com o culto do solstício.

Esta data e estas celebrações foram posteriormente adaptadas pela igreja à sua iconografia cristã, convertendo-se esta festa num culto ao menino Jesus, ao seu nascimento, mas mantendo os contornos de celebração do Sol. Como não conseguiram com que as populações abandonassem os seus costumes, tomaram-nos por seus e adaptaram-nos a uma forma mais cristã, introduzindo elementos seus nestes rituais. O facto de o Natal se celebrar a 25 de Dezembro não é casual, já que incide em cheio com o período de celebrações que se prestavam ao solstício.

Estas relações vim eu descobri-las mais tarde, como mais tarde descobri - há bem pouco tempo mesmo - que o meu pai celebrava dessa maneira a passagem de ano. E fê-lo até uma idade de jovem quase adulto. Quando comentei com ele estes hábitos de fazer uma fogueira enorme no centro da aldeia ou da vila por essa época, diz-me ele que em moço também assim comemorava a passagem de ano. Que ali para os lados da Serra do Pilar, em Gaia - para quem não conhece é aquele cabeço de monte onde está instalado o Mosteiro da Serra do Pilar, com a sua especial igreja redonda que contribui para o cenário paisagístico que formam o Porto, a ponte, o rio e a parte de Gaia -, pela noite de fim de ano, se fazia uma enorme fogueira onde as pessoas se reuniam para dançar e, como não poderia deixar de ser, comer e beber. Fiquei surpreendido, claro. Embora depois de o saber não poder deixar de achar que seria normal, já que por toda a região assim era, ali não poderia deixar de ser. Como região galega que é em costumes, tradições e crenças.

Acontece que essas tradições vão caindo em desuso aqui no Porto, por lástima. Tal como já não se faz a fogueira no fim de ano, também no São João já não se fazem pequenas fogueiras espalhadas pela cidade e já não se salta por cima delas, em número de três, para dar sorte para o ano vindouro. O Porto, considerado o baluarte desta região, o defensor das tradições nortenhas, também esquece e, aos poucos, vai abandonando as suas tradições, para absorver outras que não são suas e que nos são trazidas de outras paragens mais a sul.

Felzimente a tradição teve um forte impulso nestes últimos anos e ganhou outro vigor, por essas aldeias fora. O costume não se perdeu de vez e começa a gora a ser impensável passar a noite de fim de ano e de Natal sem a tradicional fogueira. Os jovens tomaram-lhe o gosto e seguiram os costumes dos seus pais e avós.

Assim se mantém uma tradição. E assim se preserva uma cultura.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

E a Espanha (e a Galiza) aqui tão perto...














Transcrevo aqui um texto de Luís Costa, colunista do JN, na sua edição de sábado. Após um interregno motivado por questões pessoais e profissionais, torno à edição deste o blogue, que espero se tão assídua como fora até à sua interrupção.

E Espanha aqui tão perto…


Luís, Costa, Jornalista

Ciclicamente, surgem estudos e estatísticas que nos atormentam com a lamentável realidade em que mergulhou a região Norte do país nos anos mais recentes.

Já não bastava sabermos que o Norte, que há apenas duas décadas ainda integrava o grupo das dez regiões mais industrializadas da Europa, está agora - mesmo no quadro de uma União Europeia alargada 27 países - no grupo das regiões mais pobres.

Já não bastava sabermos que o Norte, nos últimos dez anos, tem andado a divergir no crescimento, quer comparemos com a média nacional quer com a média comunitária, apesar dos dinheiros de Bruxelas que supostamente deveriam estar a ser aplicados na região e a conferir-lhe uma renovada dinâmica.

Já não bastava sabermos que a política regional europeia, ao contrário do que tem sido a prática da nossa política doméstica, não é uma política de cúpula, mas uma política de parceria e descentralizada, onde as responsabilidades são compartilhadas - numa autêntica Europa de regiões - e em que os projectos são geridos no próprio terreno.

Já não bastava sabermos que praticamente tudo aquilo que é mau a nível nacional (desemprego, falência de empresas, baixos níveis de formação académica e profissional, abandono precoce da escolaridade, índices reduzidos de produtividade, escassa geração de riqueza) é pior ainda se olharmos unicamente para o Norte.

Já não bastava sabermos que nas dez sub-regiões mais pobres do país figuram quatro espaços territoriais nortenhos - Tâmega, Alto Trás-os-Montes, Minho-Lima e Douro - e que somente o Grande Porto integra o "top-ten" das sub-regiões mais ricas, mesmo assim em quarto lugar, praticamente lado a lado com o litoral alentejano, embora seja a segunda metrópole do país.

Já não bastava sabermos tudo isto e um trabalho realizado em parceria pelos institutos nacionais de estatística de Portugal e de Espanha vem dizer-nos que o Norte português desceu para a cauda de todas as regiões da Península Ibérica - incluindo as ilhas - no "ranking" do rendimento disponível bruto das famílias, por pessoa. Mais na vizinha Galiza, esse mesmo rendimento chega a duplicar idêntico rendimento na região Norte. E, claro está, de todas as regiões portuguesas a única que rivaliza com o rendimento disponível bruto das famílias espanholas é a região de… Lisboa.

É nestas alturas que me lembro de uma frase brilhantemente simples de Poças Martins, na altura a exercer funções autárquicas em Vila Nova de Gaia, por sintetizar na perfeição o drama de um país estruturado numa lógica político-administrativa praticamente imutável desde finais do século XIX "Temos uma divisão administrativa do território que não é adequada ao desenvolvimento. Assim, vamos de vitória em vitória até à derrota final".

Perante este quadro, vale a pena relembrar que, pela primeira vez nos últimos 30 anos, o primeiro-ministro e o líder do maior partido da oposição mostram estar em sintonia quanto à necessidade de avançar com o processo político da regionalização.

É verdade que nenhum deles quer comprometer-se com calendários rigorosos, e até nisso parecem estar de acordo. O que, embora se compreenda do ponto de vista táctico (na suposição de que não existem ainda as condições necessárias a um bem sucedido referendo sobre a matéria) dá sempre para desconfiar quanto às reais intenções de Sócrates e de Menezes… até por ambos serem "cristãos novos" desta nobre e velha causa.

O certo é que a oportunidade existe, como nunca antes existira, e não pode de modo algum ser desperdiçada por quem acredita, com efectiva sinceridade, termos uma divisão administrativa do território manifestamente desadequada ao desenvolvimento. No âmbito do próximo ciclo eleitoral legislativo, que é já em 2009, os líderes dos dois maiores partidos portugueses têm de ser ferozmente confrontados com aquela necessidade - e com as suas promessas e profissões de fé.

Para quem acredita que da sobrevivência do Norte depende a sobrevivência do próprio país, a palavra de ordem só pode ser uma até 2009, paciência; depois de lá chegarmos, insistência. Caso contrário, embora correndo o risco de irritar aqueles que trazem sempre a Pátria na boca e a unidade nacional na ponta da língua, mas Lisboa no alforge, mais vale dar razão a José Saramago e admitir que, mais tarde ou mais cedo, acabaremos inapelavelmente anexados por Espanha. E, por este andar, quanto mais cedo melhor.

Luís Costa