quarta-feira, 30 de maio de 2007

Entrevista a José Marques dos Santos, Reitor da UP










Jornal de Notícias | Tem assumido um discurso pró-região. Afinal, como chegou o Norte a este declínio? Como perdeu a sua força reivindicativa?

José Marques dos Santos | O que terá acontecido foi que o Norte não soube criar as condições para fixar emprego de grande qualidade nos vários sectores. Todo esse emprego foi para Lisboa, para outros locais ou para fora do país, o que significa que não conseguimos fixar pessoas de elevada qualidade, que contribuam para o progresso da região.


É uma culpa partilhada pela região e pelo Estado?

Claro que sim, é de toda a gente. Os empresários e os artistas vão todos para Lisboa. Às vezes, interrogo-me se estão à espera de algum deus que venha criar as condições na região. Cada um de nós tem de se sacrificar um pouco para criar as condições necessárias. Se quem é capaz e pode contribuir abalar daqui para fora, isto nunca crescerá. E seria interessante que os que daqui saíram, a diáspora da região, regressassem. Talvez seja ingenuidade? Se é, então desistimos, ficamos com um país macrocéfalo que tem apenas um grande centro em Lisboa e deixamos de nos queixar.


A atitude deve mudar?

Temos de ser nós próprios a resolver os problemas e não apontar os outros como causas. Temos de deixar este discurso de lamúria e ser mais positivos.


Os políticos também saem e esquecem a região?

Se calhar, também. Políticos, banqueiros, industriais e artistas... Todos desaparecem.


Não é preciso criar condições para que regressem?

Eles próprios também têm de regressar para criar condições. Se os mais capazes não contribuem, quem as criará? O poder central? O poder local delapidado dos seus melhores valores? Assim é difícil.


Tem insistido numa maior cooperação a todos os níveis.

Claro, é fundamental. Falemos de coopetição, o novo calão que associa competição e cooperação. As empresas e as instituições têm de saber competir e também cooperar naquilo onde apenas juntas conseguem criar massa crítica e valor acrescentado.


Por que é tão difícil essa cooperação?

Não sei. É intrínseco. Será por sermos demasiado individualistas ou divididos. Na freguesia onde moro, há três ou quatro clubes e cada um nasceu por cisão. Não há infra-estruturas desportivas na freguesia porque ninguém se entende. Cada um prefere ser o dono de uma coisa pequenina do que partilhar a capacidade de poder e liderança para algo melhor.


Cada um prefere mandar na quintinha em vez de se juntar em torno de uma quinta maior, como diz. Não há capacidade para aceitar com humildade uma liderança?

Obviamente. Não consigo perceber uma instituição ou uma região que vá para a frente sem uma liderança.


Por que falta liderança à região? É dividir para reinar?

Falta talvez uma estrutura política, uma região, algo que nos junte, que tenha poder interventivo e legitimidade para se impor. Se se construir uma equipa com cinco ou seis pessoas e não se nomear um líder, ela rapidamente se desmorona porque o primeiro que avançar é acusado pelos outros de querer protagonismo. Por isso ninguém faz nada, tem tudo receio de avançar.


Deve ter um líder ou mais?

Não acredito em lideranças duplas e triplas. Isso não conduz a bons resultados. E deve haver continuidade. O que acontece, quase sempre, é que quem está à frente dos órgãos está por tempos limitados. Quando as coisas estão a chegar a um ponto razoável, vão embora e volta tudo a zero.


Usando uma sua expressão, quando não há um maestro, cada um acaba por tocar para o seu lado?

E há muitos que tocam bem, mas não conseguem fazer tocar uma orquestra.


Quem poderia ser o maestro da região?

Tem de ser alguém com intervenção política forte. Um político. Alguém que esteja num órgão que seja depois reconhecido e aceite por todos. E que, pela sua capacidade, se imponha aos outros. Se for um medíocre não se impõe.


Há quem atribua esse papel à CCDRN, mas falta-lhe legitimidade democrática.

Pois, dizem que não tem legitimidade e não é eleita. Se calhar sou ingénuo politicamente, mas faz-me confusão, tendo nós uma certa organização administrativa, não ser possível ter uma capacidade de intervenção adequada e impor-se essa liderança. Isso dirá um pouco mal da democracia. Então estamos aqui todos não para construir algo mas cada um está no seu lugar para defender a sua dama. Cada líder local, numa universidade ou numa câmara, deve ter uma visão superior. Temos que pensar se estamos a contribuir para o progresso geral. Cada um tem que pensar para além de si próprio e, quer se queira quer não, tudo que é eleito preocupa-se consigo próprio na perspectiva de outra eleição.


Enquanto não há regionalização, a Junta Metropolitana do Porto pode fazer, parcialmente, esse papel?

Se calhar podia e devia. E penso que tem vindo a fazê-lo.


O que retira da polémica negociação em torno do metro?

Cada um defende só os seus interesses e preocupa-se pouco com interesses cruzados. O líder daquela estrutura devia ser alguém acima de cada entidade.


Concorda, então, com o regime proposto pelo Governo para as áreas metropolitanas, com um executivo sem presidentes de câmara?

Isso vem de encontro ao que estou a afirmar. Porque se for um dos presidentes de Câmara, é logo acusado de defender os seus interesses. É a tal independência que deve existir. Este país construíu-se muito à base da cunha, do pedido, com cada um a procurar resolver o seu problema, e sem saber se ao fazer esse pedido está a prejudicar um todo mais alargado. Se houvesse uma junta regional, ou algo do género, teria de ser alguém acima das câmaras.


Mostrou-se favorável à regionalização mas questionou a capacidade dos nortenhos de se entenderem para fazer tal reforma.

Esta é a minha visão.


A questão é mesmo de falta de liderança?

Penso que sim, por mais que me digam o contrário. A Madeira e o Algarve têm líderes, quer se goste ou não deles. E Lisboa tem o próprio Governo. O Norte e o Centro não têm e veja como estão. Falta capacidade de juntar as pessoas em torno de um projecto.


Não basta estar de mão estendida, é isso?

A liderança serve para definir estratégias que envolvam todos os agentes e pô-las em acção. Quando o dinheiro vem para a região, esta já poderia dizer "quero para isto e para aquilo". E não ter que estar a submeter projecto a projecto. Falamos já de uma estratégia da própria região.


Tal estratégia regional não tem que partir do Governo?

Penso que não é necessário. Se sabemos o que queremos e nos conseguimos entender, ninguém tem de decidir por nós. Claro que a estratégia da região tem de estar sempre em consonância com a do país.

Regiões sem referendo

Enquanto adepto da regionalização, defende um novo referendo?

Por natureza, sou contrário ao recurso à figura do referendo por tudo e por nada. Temos uma democracia participativa. Elegemos deputados para nos representarem e eles devem estar muito melhor informados. É verdade que, muitas vezes, estão sujeitos a disciplinas partidárias que influenciam as decisões. Tem que haver coragem dos partidos de se entenderem e encontrar uma solução constitucional.


Seria difícil, até pela resistência do líder do PSD?

Sim, mas houve tantas mudanças desde o último referendo. O presidente da Câmara do Porto, que não era regionalista, hoje defende a regionalização. Já tem a experiência que lhe permita ver as dificuldades

5 comentários:

Oscar de Lis disse...

Interessantíssima a entrevista ao José Marques dos Santos. E muito ilustrativos os motivos que ele dá para defender a regionalização. Parece que, como na Galiza no seu momento, o movimento reivindicativo da regionalização irá vir desde os que se sentem menosprezados por um poder central que, devido ao tamanho dos países actuais, nem está capacitado para governar em todos os locais. Na Galiza do norte do Minho atingiram-se umas instituições próprias, mas nem assim é que seja possível dizer que os problemas foram ressoltos. Marques dos Santos diz que os governos regionais devem estar em sintonia com o central. Não acredito: eles não têm que estar necessariamente a concordar. Bem ao contrário, têm de discordar quando seja necessário para defender aprimoramentos para os cidadãos que representem. Mas talvez a influência francesa, também visível na ideologia portuguesa, vaia dificultar essa descentralização dos poderes.

http://galizadebate.blogspot.com/

Sam disse...

Essa influência dos ideais e cultura francesas é bem patente ainda no estadismo português. Embora a velha aliança portuguesa fosse com a Inglaterra, ao nível da política estadista, sempre se procuraram referâncias nos franceses. E sabemos como eles são centralizadores. A Espanha, por sua vez, sempre teve como aliada a França e sempre a segui em tudo. Contudo, a sua política de descentralização foi mais eficaz que a portuguesa e isso reflectiu-se no seu "boom" económico e equilíbrio entre regiões.

Concordo que a descentralizaçõ espanhola deixa muito a desejar, é certo, achando eu que as nações históricas deveriam ter mais autonomia e decidir o seu próprio futuro. Mas quando comparado com Portugal, as diferenças são enormes. Portugal é dos países mais centralizados da Europa e sofre ainda de uma cultura de metrópole, herdada de anos de colonialismo.

A situação que a Galiza viveu é semelhante à que vive a sua irmã do sul. O desprezo e a falta de interesse em resolver os problemas que sentimos por parte do governo instigam a uma maior autonomia. Queremos ser nós a resolver os nossos problemas. O único interesse do governo nestas regiões são os impostos e as indústrias que produzem riqueza "nacional". A regionalização tarda e é urgente que apareça.

E discordo também que os governos autonómicos tenham que estar em sintonia com o governo central. São autonómicos e, como tal, tenhem é que defenedr os seus interesses. Podem ser de uma força política e o governo central ser de outra. Importa é que haja cumprimento de parte a parte.

Cumprimentos

Antonio Lugano disse...

Uma verdade grande... como uma Região !
Saudações.

Anónimo disse...

Mas será que nós os mouros aqui da margem sul do Tejo, do deserto miscegenados e mulatos, temos de subir por Portugal acima, para os fazer entrar nos eixos, seus espanhóis de merda !
Mais fácilmente Cabo Verde volta a ser português e criamos uma federação com o Brasil do que alguma vez negociaremos convosco, espanhóis subjugados a Castela.
Continuem com essas ideias de nos roubarem território vital e estão fodidos, ainda levam com ataques terroristas na vossa Galiza. Portem-se bem aprendam a falar português e deixem de dizer que são Celtas, porque os Celtas colonizaram foi o Alentejo, aí era só bárbaros na vossa terrinha.
Não querem ver estes aguadeiros.

Viva Portugal Republicano Nacionalista e Libertário

E. B. disse...

Bem, mas que grande ignorante que é este anónimo! Não leias uns livros não...
De qualquer forma, garanto-vos que esta é a maneira de pensar de muita, muita gente no sul em geral e em lisboa em particular.
Norte, quando acordarás?!