quinta-feira, 3 de maio de 2007

A Urgência na Regionalização











Entrevista a Valente Oliveira, vice-presidente da AEP

Parece que foi ontem que o Norte estava entre as dez regiões mais industrializadas da Europa. Mas o Mundo mudou, a economia afundou-se e, com ela, a qualidade de vida das pessoas. Valente de Oliveira reconhece responsabilidades no Norte e em Lisboa, mas recusa esperar pela iniciativa da capital. A região tem que formar os seus próprios lideres e "protestar, protestar, protestar" pela defesa dos seus interesses. E convencer o país a avançar com a regionalização. Quem o diz, do alto dos seus 70 anos, sabe do que fala pois estuda o país e conhece o Norte e os seus problemas como poucos

JN|A crise que o Norte atravessa já estava anunciada há muito. Era possível evitá-la?

Valente de Oliveira|A crise tem causas profundas, o mundo mudou muito e muito rapidamente. Quem não estava metido no modelo da economia de então tinha mais facilidade, mas nós, que somos uma velha região industrial, estávamos amarrados a tecnologias, a modos de proceder, a mercados. Fomos uma das dez maiores regiões industriais da Europa, ainda há pouco tempo, o que confere uma força muito grande, dá características tecnológicas, de organização, uma mentalidade especial aos agentes económicos. Não seria a mesma coisa se não tivéssemos uma marca tão grande. Mesmo assim, há gente que se soube adaptar muito bem e fazer a mudança com grande determinação.

Essas pessoas estão a criar a dinâmica necessária para puxar a região?

São essas que, para já, estão a aguentar as exportações. Que sejam capazes de arrastar todas as outras, não tenho a certeza, ou antes, parece-me muito difícil. Porque em primeiro lugar não comunicam facilmente os seus segredos. O que é preciso é fazer outras coisas, noutras indústrias mais complicadas. Mas se formos a ver indústrias muito tradicionais, como os têxteis e o calçado, há gente que está a dar a volta. O que é preciso? Descontrair mais, estar aberto a mudanças, à introdução de novos sectores. E estamos com alguma rigidez, nomeadamente na lei laboral. Não se pode fazer a reconversão com leis tão rígidas no campo laboral, que não permitam já a mudança tecnológica e de organização. Quando se aparece sem vínculos para trás é melhor. É um esforço muito grande que é pedido.

A lei laboral está a ser revista, tudo indica que no sentido da maior liberalização…Que é indispensável…

Mas a curto prazo tem impacto no desemprego...

É verdade, mas se virmos o que fizeram os outros países… A Espanha, no tempo do Felipe González (um primeiro-ministro socialista), aguentou taxas de desemprego de vinte e tal por cento. É preciso arranjar mecanismos adequados de apoio no desemprego? É, naturalmente. Não se pode dar volta à estrutura industrial com mais um grau de dificuldade, de amarração. É preciso não comprometer. Porque o resto já é tão complicado! A parte tecnológica, dos mercados, a internacionalização, o lidar com nova gente, o ter que fazer parcerias com estrangeiros... Quem é que está a dar a volta, tirando a China? A Índia, a Irlanda… A Irlanda é um elemento de comparação complicado.

Tem muitas vantagens que Portugal não pode ter…

Começa pela língua e, depois, uma educação enorme. Nós somos o outro lado do espelho. Começamos com as infra-estruturas. A Irlanda começou com formação e hoje tem um problema enorme de infra-estruturas. Não quero desculpar o passado. Ainda hoje se deve atender mais à educação e formação profissional.

O Norte tem um grave problema de desemprego. Como pode ser ultrapassado?

Fico sempre intrigado quando falo com empresários que dizem não conseguir arranjar mão-de-obra. E há desemprego. Por muito estranho que pareça, para resolver esse problema é preciso a flexibilização das leis laborais, que permitam restringir a mão de obra e viabilizar empresas; e a formação profissional e a educação, temos que lhe dar uma ênfase muito grande. Diante do desemprego o que podemos fazer? Educação e formação profissional e, por muito insólito que pareça, maior flexibilidade no mercado de trabalho.

Apoia a política reformista deste Governo?

Sim sim, apoio o espírito reformista de uma maneira geral. O reformismo deve ser permanente e por pequenos passos, particularmente em Portugal, porque quando se fazem grandes reformas o que habitualmente acontece é que vai a água suja do banho e o bebé junto, como dizem os ingleses, e eu quero ficar com o bebé. O importante é que consigamos actores novos.

Há líderes no Norte?

Tenho a vantagem de dizer isto há 30 anos: precisamos de líderes não só científicos (que temos), não só empresariais (que temos), mas políticos. Precisamos de líderes regionais. Não pode ser um líder local transformado em regional, sem ser legitimado pelo voto regional. Isso é fatal. O que é que se precisa neste momento? De alguém com poder de convocatória grande, para convocar as universidades, associações, empresas, serviços, para resolver problemas de isolamento. Não há redes, precisamos de alguém com legitimidade para as tecer.

Há pessoas que podem tornar-se esses líderes?

Acho que sim.

Quer identificar?

(...)


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