quarta-feira, 23 de maio de 2007
Um Concenso Inconcensual
É notícia de hoje a confirmação do início das condicionantes impostas pelo governo relativamente ao processo Regionalização. Muito se adapta o governo conforme os temas em discussão! Se nuns casos (Aeroporto da Ota) o concenso é algo que apenas vai atrapalhar os interesses do governo no que diz respeito a esta matéria, noutros o concenso é uma condição para que o processo avance. Concenso é preciso por um lado, enquanto que por outro o que manda é o avanço do país. Ou de uma parte dele.
Será então preciso que haja concenso entre as partes interessadas para que o processo da regionalização seja levado avante. E é colocado imediatamente de parte uma resolução rápida para o processo, descartada que foi pelo primeiro-ministro a hipótese de o referendo se realizar antes de 2009. Ou - quem sabe? - (nem) na próxima legislatura. E ainda assim, será necessário haver um concenso.
De uma assentada, e após um silêncio prolongado sobre o assunto, o primeiro-ministro arrefece os entusiastas da Regionalização e começa a colocar os primeiros entraves. E colocar entraves à regionalização do país é colocar entraves ao desenvolvimento económico dele. Porque um país nunca poderá funcionar apenas tendo como referência a sua capital, enquanto o resto do país (a sua maior parte) tenta sobreviver diariamente com o pouco que tem - para não falar na privação das necessidades básicas que diariamente lhe são impostas.
Temos portanto um país a duas velocidades e com duas políticas. Uma região (Lisboa e Vale do Tejo) a uma velocidade embalada pela frescura económica proporcionada por uma política centralista do governo - que lhe proporciona vantagens na competitividade interna; e o resto do país a uma velocidade de caracol, tentando desesperadamente encontrar meios e soluções para sair do marasmo em que se encontra e combater o desinteresse do governo pelos seus problemas. E, por outro lado, uma política proteccionista para com a capital, desburocratizando - e passando mesmo por cima de pareceres técnicos e algumas leis - tudo quanto seja possível para que o desenvolvimento desta acompanhe o ritmo das suas congéneres europeias - enquanto que para o resto do país há a maior burocratização possível de todos os processos (e uma necessidade de concenso), impedindo-o de crescer ao ritmo frenético da sua capital.
A isto chama-se ter dois pesos e duas medidas. A serem usados da forma que mais lhes convém. Enquanto o resto do país luta para sair das dificuldades que atravessa. Não adianta anunciar um crescimento de 2, tal % do país quando esse crescimento não corresponde à realidade de todo o terrritório nacional. Não é correcto anunciar a queda do desemprego quando ele aumenta na região que fora o motor económico do país. O que adianta é ser objectivo e olhar de frente para os problemas sem estar a pensar noutro tipo de interesses
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12 comentários:
excelente texto.
realmente é revoltante, para uns não é preciso consenso, para outros já é.
E uma OTA não desenvolve um país, até porque é uma infra estrutura desnecessária, e já uma regionalização sim desenvolve e muito.
Ca pa mim esta gente anda com medo que o norte recupere a sua consciência identitaria e comece a pedir independencia como a sua irma Galiza. Enfim não sei, é muito estranho esta atitude. Querem recuperar a economia e diminuir o desemprego e nao apostam na regionalização!!!!
Completamente de acordo com o artigo!!
já agora,a despropósito ,mas porque ninguém se deu ao trabalho, aqui fica a minha saudação ao FCP, um clube galego que mais uma vez venceu o campeonato português. Contra tudo e contra todos ,as cores da galiza aí estãobem vivas nas nossas bandeiras desfraldadas !!
Amigo Calecia,
Dada a temática abordada, tomei a liberdade de publicar este seu "post", com o respectivo link, no
Regionalização
Cumprimentos
Amigo António,
Sendo o Regionalização uma referência, apraz-me saber disso.
Cumprimentos
Parabens polo teu blogger ten uns contidos moi bos, saudos dende a galiza :)
Caro Nóbrega, venho de ler os comentários a alguns artigos seus deste blog e fiquei admirada da futilidade com que alguns falam de certas cousas.
Sem dúvida a descentralização de Portugal seria sintoma de reforçamento do Norte (Galiza Sul), mas também seria fraqueza perante uma (certa) invasão mediática e económica espanhola.
O problema da regionalização de Portugal não se pode enxergar sem um olho posto na Espanha, na sua regionalização e nos seus interesses.
Uma cousa são os nossos próprios desejos e uma outra diferente são as realidades em que nos envolvemos.
Eu prefiro um Portugal vivo (a risco de morrer eu e a Galiza Norte) que uma Galiza ESPANHOLA mais grande. Por isso a descentralização de Portugal, sendo ideia excelente, deve ser tratada com siso, e não à toa.
Parabéns pelo texto (embora não concorde integralmente, acho que espelha muito bem alguns dos piores pecados de POrtugal)
Adicionei link no meu blog.
Caro Gallaecia,
Obrigado polos elogios. Tem este teu blog alguma relação com o Galiza Celta?
Saudações
Caro Pedro,
Obrigado. O seu blog continua a ser ponto de passagem, para mim.
Cara Isabel (last but not least),
Primeiro, deixe-me dizer-lhe que é com enorme satisfação que a encontro por aqui. Nom tenho tido tempo para passar polo portal, mas parece-me andar meio parado aquilo...
Concordo muito consigo e há que definitivamente distinguir desejos de realidades. Tempos de ter noção de que temos de agir em função dos vários factores que formam o tempo presente.
E temos por exemplo o Eixo-Atlântico e a Euro-região, que considero serem sub-aproveitadas, actualmente. Uma maior autonomia do sul da Galiza seria benéfico para o fortalecimento económico da euro-região e para o estreitar (ainda mais) dos seus laços.
Aliás, como sempre afirmo, a regionalização irá servir para o fortalecimento do próprio Portugal. O país só terá a ganhar com ela, por força do desenvolvimento ajustado e apropriado de cada uma das suas regiões. Os que afirmam que a regionalização irá apenas servir para desmantelar o país sofrem de preconceitos. Mas respeito-os.
Será inevitável a invasão mediática e económica espanhola, mas deixe-me dizer-lhe que será mais mediática. Porque económica já ela é e se dúvidas existissem quanto a isso basta ver pela quantidade de entidades bancárias já presentes em Portugal. E quem mais que elas para demonstrar o poderio económico?
Há também que botar um olho na Europa e inspirarmo-nos e mesmo melhorar os exemplos de sucesso. E afinal, ela está aqui tão perto e países mais pequenos que o nosso foram e são bem sucedidos com a regionalização do seu território.
Cumprimentos,
Nóbrega
Presado Nóbrega
Comentei o seu artigo no "Gallaecia", e permiti-me reproduzir o logotipo.
A minha vénia e uma
Cordial Saudação
Caro António,
Fico satisfeito que o texto tenha sido alvo do seu interesse. Aprecio a qualidade dos conteúdos do seu blog.
Cumprimentos
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